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MADONNA HOMENAGEIA PERIGUETES NO RIO
3 de dezembro de 2012
Por Táia Rocha
Por Táia Rocha
Rio de Janeiro – Com duas horas de atraso em relação ao horário anunciado, a incansável rainha do pop, Madonna, subiu às 23h de domingo ao palco do Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e empolgou uma multidão de 67 mil pessoas com as músicas de seu mais recente disco, “MDNA”, além de sucessos de todas as fases da carreira.
A chuva que estava prevista ficou longe dos domínios de Madonna. Os portões abriram com 1h30 de atraso, e o trânsito encontrou engarrafamentos pontuais no entorno do espaço.
Madonna está no Rio desde sexta-feira (30 de novembro), e teria reservado todos ou a maior parte dos quartos do luxuoso hotel Fasano, em Ipanema, para ela, seus filhos e toda a equipe do show.
Às 21h, depois de uma hora de atraso, a dupla brasileira de DJs Felguk abriu o show da cantora com som eletrônico que não agradou os fãs. Felipe Lozinsky e Gustavo Rozenthal caíram no gosto da cantora quando fizeram um remix da faixa “Celebration”, do álbum homônimo de 2009. Apesar da agitação dos DJs, os fãs de Madonna só chegaram a aplaudir a apresentação quando o telão mostrou uma bandeira do Flamengo e uma boneca da cantora, pinçados pelas lentes na multidão.
Depois de algumas rodadas de vaias, às 21h55 a dupla deixou o palco dizendo “é a última, pessoal!” e nem “Seven Nation Army”, do White Stripes conseguiu satisfazer a multidão impaciente.
As dezenas de milhares de espectadores nem suspeitavam que até a hora do show ainda seria preciso esperar mais de uma hora. O atraso lembrou o do último show no Rio, no Maracanã, em 2008. Às 23h, o espetáculo enfim começou.
Ao som de canto gregoriano, dançarinos vestidos de monges balançavam um grande defumador suspenso. Ao fundo, o cenário trazia igrejas góticas, com uma enorme cruz com as letras “MDNA”, que também batizam a turnê, e Madonna surgiu como uma silhueta atrás da porta de uma das igrejas, cantando a nova “Girl Gone Wild”, para o êxtase do público. Então “quebrou” a porta e surgiu toda vestida de couro preto, lembrando a heroína “Barbarella”, em plena forma aos inacreditáveis 54 anos.
A ópera pop, formato que Madonna escolheu para o show (e que usou bastante em outras fases de sua carreira de 30 anos) ganhou ação: com uma “metralhadora”, Madonna passou a lutar contra homens de preto encapuzados, numa clara referência a filmes como “Kill Bill”, de Quentin Tarantino.
Os fãs mais velhos, apesar de serem minoria no público, estavam representados. A mineira de Belo Horizonte Maria Leonor Barra, arquiteta de 67 anos, era um deles. Na pista premium (a mais cara) com as filhas, ela contou que a idade facilitou sua entrada: “Fui a primeira da fila, devido à prioridade”, contou, sorrindo, e emendou: “e ainda assisti à passagem de som!”. Mas o público jovem, até hoje ampliado todos os anos pela cantora, era mesmo a maioria. Vinicius Alves, de Petrópolis (RJ), de 24 anos, estava entre eles, e apesar de ser fã há menos de 10 anos, exibia, orgulhoso, uma tatuagem com o nome da cantora no ombro.
A introdução de cordas de “Papa Don”t Preach”, sucesso dos anos 1980, soou para alegria dos fãs veteranos. No palco, Madonna foi novamente perseguida por figuras macabras. Acorrentada, carregada e arrastada, fechou a cena fazendo slackline entre os dançarinos.
Em seguida, viu-se uma sequência “afirmativa”: a jovem rapper Nicki Minaj surge no telão, canta “I don”t give a…”, também do novo álbum, em dueto com Madonna – que esqueceu a letra por um momento, confirmando a performance ao vivo – e diz, ao fim “Só existe uma rainha, e é Madonna”.
Para arrematar, a majestade do pop puxou “Express Yourself” vestida de cheerleader, enquanto o telão exibia imagens em tom feminista, emendando no mesmo arranjo versos de “Born this way”, de Lady Gaga, que foi acusada de plagiar a pioneira. Madonna concluiu a alfinetada com a canção “She”s not me”.
Vez por outra, a Material Girl se arriscava no português – quando não se confundia com o espanhol: “¿están listos?” perguntou, logo corrigindo: “Rio, está pronto?”. Depois comentou “Eu sei que vocês gostam de samba!” e disse várias vezes “Está caliente!”. Na plateia, um fã resumiu: “Ela está falando português… em espanhol”.
Em seguida, Madonna apresentou o grupo basco “Kalakan” que a acompanhou em uma versão acústica aciganada de “Open Your Heart”. O público respondeu agitando centenas de balões vermelhos em forma de coração, distribuídos por fãs. Um dos filhos de Madonna, Rocco, dançou break no palco.
O ato mais empolgante do show começou com a música “Vogue”, que a loira interpretou vestindo Jean Paul Gaultier, seu parceiro desde os anos 1990, com uma armação metálica de corpete sobre um terno masculino, com direito a sua coreografia mais famosa, enquanto os dançarinos roubavam a cena desfilando roupas exóticas e extravagantes.
No próximo número a artista ficou só de lingerie e o público pôde ler em suas costas a palavra “periguete” desenhada na pele em letras garrafais, e respondeu cheio de humor chamando em coro a cantora pela gíria. Madonna avisou que a próxima música (“Like a Virgin”) seria “dedicada a todas as periguetes, porque uma periguete inspira as outras” e foi aplaudida. Madonna dançou a versão lenta do hit com uma performance sensual, pedindo dinheiro ao público e rastejando para pegá-lo, e chegou a lamber a mão de uma fã.
Dois grandes sucessos encerraram a noite: a arrasa-quarteirão “Like a Prayer”, que levou o público à loucura com um coro gospel improvisado com os músicos da banda e dançarinos vestidos com hábitos estilizados, e a bem mais recente “Celebration”.
Quanto à qualidade técnica, embora a voz de Madonna continue pedindo muitas pausas e copos d”água ao longo do espetáculo, soou notavelmente melhor e mais segura que na última turnê, “Sticky & Sweet Tour”, há quatro anos.
Na reta final da turnê “MDNA”, Madonna ainda passará, no Brasil, pelo Estádio do Morumbi, em São Paulo, nos dias 4 e 5, e pelo Estádio Olímpico Monumental, em Porto Alegre, no dia 9. Ainda há ingressos para as três apresentações, de acordo com o site oficial da cantora.
MARCHA DAS VADIAS COBRA DIREITOS E ESTADO LAICO DURANTE EVENTO DA JMJ
27/07/2013 21h11
Por Táia Rocha
27/07/2013 21h11
Por Táia Rocha
Rio de Janeiro, 27 jul (EFE).- Mulheres, homens, integrantes do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e até mesmo peregrinas da Jornada Mundial da Juventude se manifestaram pela legalização do aborto e o Estado laico neste sábado, no local onde católicos esperavam ver o papa Francisco.
A manifestação feminista Marcha das Vadias reuniu entre 1,5 mil e 2 mil pessoas, partindo de Copacabana para Ipanema, sentido oposto ao da passagem do pontífice em sua chegada para os eventos na orla carioca.
A professora de filosofia Ellen Souza, de 28 anos, explicou que a escolha do percurso foi proposital: "Estamos fazendo o caminho contrário ao da Igreja porque a gente busca a liberdade".
Ellen, que tinha a frase "Papa, papa aqui" pintada no tronco, coberto apenas por um sutiã, justificou a mensagem "a Igreja diz que o corpo é um templo de Deus, mas todas somos deusas e nosso corpo, que é uma delícia, pode ser desfrutado".
Entre as principais bandeiras dos manifestantes estava a legalização do aborto e o Estado laico. As causas inspiraram a fotógrafa Claudia Regina, de 24 anos, que marchava de peito nu.
"Coragem por 5 mil anos de opressão. Estamos aqui porque queremos um Estado laico e que mulheres tenham agência sobre suas vidas e seus corpos", explicou.
A abrangência da marcha foi plural a respeito dos gêneros. Sob uma bandeira com as cores do arco-íris, a professora Evelyn Silva, 39, defendia que até mesmo os gays precisam se atualizar.
"O movimento LGBT hegemônico é muito masculino, então lésbicas, transexuais e travestis sofrem discriminação machista e até misoginia (aversão a mulheres) dentro do movimento".
Rodrigo Deodoro, programador de 27 anos, que, com um vestido preto de bolinhas brancas, fazia coro às reivindicações femininas: "Acho que ser mulher é se expor a tantas coisas todos os dias, que estou dando meu apoio me expondo um pouco aqui também".
Perguntado sobre como os homens podem ajudar no processo de libertação feminina, Rodrigo foi irônico: "pode ajudar não atrapalhando, já é uma grande ajuda".
Ao longo do protesto, grupos realizavam performances. Em um deles, mulheres gritavam, com humor, confissões, em referência ao evento católico simultâneo: "Eu confesso que me masturbo!", "eu confesso que já fiz um aborto por ser estuprada!", entre outras falas de impacto.
Em outro grupo, um casal chamava atenção (e atraía câmeras da imprensa) se despindo e usando crucifixos e imagens como tapa-sexo. Perguntado sobre o que faziam, o manifestante da dupla respondeu com uma pergunta: "Resistindo, e você?".
Mais à frente, em outro momento, o grupo quebrou imagens de santos católicos, provocando polêmica em páginas da manifestação e do grupo Mídia Ninja no Facebook. "Como que pessoas que não respeitam a religião alheia querem respeito?" questionou um internauta. "A arte utiliza os símbolos, os ressignifica, denuncia...", respondeu outro, em defesa da ação.
Ao largo da marcha, no calçadão, muitos peregrinos da JMJ assistiam, a maioria sem interagir, à passeata. Raísse da Silva e Laleska Tersetti, ambas de 18 anos, diziam respeitar o direito à manifestação, mas questionavam algumas pautas do movimento.
"Se uma célula (animal) for encontrada em Marte, os cientistas dizem que há vida em Marte, então se houver uma célula (de um feto) dentro de mim é uma vida. Para mim, aborto é assassinato, e se eu fosse estuprada, não tiraria o bebê", alegou Laleska. "O Estado não ser laico não é culpa da Igreja", completou Raísse.
O peregrino Saulo Rafael, de 24 anos, criticou o movimento: "São muito oportunistas. Quando fazem a Parada Gay, a Igreja não vai protestar dizendo que estão errados", comparou.
Mas nem todos os participantes do evento católico eram contra a manifestação. Helen Garcia, de 20 anos, que estava com a mochila da JMJ, tinha pintada no colo, acima da blusa branca, a palavra "vadia".
"A Igreja não é homogênea. O papa representa o setor conservador, mas há várias correntes progressistas que querem que o catolicismo abra mão de alguns dogmas e também do machismo", disse.
Outras reivindicações surgiram durante a marcha. Entre as palavras de ordem, estavam críticas ao governador do Rio de Janeiro, como "(Sérgio) Cabral, bandido, cadê o Amarildo?", em referência ao pedreiro da Rocinha que desapareceu após a operação "Paz Armada", da Polícia Militar, no dia 14 de julho.
O único momento de tensão foi na Rua Francisco Otaviano, por volta das 16h30, quando um grupo de batedores da Polícia Rodoviária Federal tentava abrir caminho, de moto, contra a multidão, para uma van oficial passar.
Esta foi a 3ª edição carioca da Marcha das Vadias, um movimento internacional que correu o mundo a partir de uma manifestação em Toronto, no Canadá em abril de 2011.
CAUBY PEIXOTO E PORTUGUESES BRILHAM NO 24º PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA
Agencia EFE
Por Táia Rocha
Rio de Janeiro, 13 jun (EFE).- Em um Theatro Municipal lotado, a cerimônia do 24º Prêmio da Música Brasileira premiou ontem, quarta-feira, 35 artistas, com destaque para Cauby Peixoto, aplaudido de pé por seus dois prêmios, entre homenagens a Tom Jobim.
Aberta às 21h30, com a fala do idealizador do prêmio, José Maurício Machline, a cerimônia começou com uma emocionante execução de um arranjo inédito de Wagner Tiso para "Eu sei que vou te amar", escrito para seis pianistas: Tiso, Gilson Peranzzetta, Cristóvão Bastos, João Carlos Coutinho, Leandro Braga e João Carlos Martins, que solou após o prelúdio.
A apresentação marcou o emocionante retorno do maestro Martins, afastado há 11 anos do palco como pianista, e que pôde voltar a tocar depois de passar por 19 cirurgias e uma rotina diária de horas de fisioterapia para corrigir graves problemas nas mãos.
Regendo orquestras há seis anos, Martins contou à Agência Efe que, após recuperar o movimento da mão esquerda, pretende lutar para voltar a tocar normalmente: '"A carreira de regente vai fantasticamente bem, mas para que abandonar o sonho? Se você me perguntar se ainda vou tentar tocar com as duas mãos, digo: por que não? Quem sabe aos 74 volto a ser o menino de 10 anos?"
Tom Jobim, que há 50 anos lançava seu primeiro disco de estúdio, "The Composer of Desafinado: Plays", foi lembrado com um vídeo inédito de Vik Muniz no qual a imagem do artista foi recriada com flores e folhas, enquanto se ouvia um texto de Francisco Bosco na voz de Caetano Veloso sobre o poeta.
Ao longo da noite, cantores como Nana Caymmi, Leny Andrade e Ney Matogrosso entoaram clássicos de Tom. Algumas atuações mais frias, como a de Céu em "Insensatez" e a de Maria Gadú em "Chega de Saudade", não chegaram a ofuscar interpretações arrebatadoras, como a da veterana Rosa Passos ('Inútil Paisagem') e a de Mônica Salmaso em "Derradeira primavera".
Mas foram os portugueses Carminho e António Zambujo que fizeram o teatro aplaudir por mais tempo, apresentando "Sabiá" como um fado moderno.
Entre os fãs declarados dos europeus estava o ator Sérgio Mamberti, um dos primeiros a se levantar para aplaudi-los.
À Agência Efe, o ator contou já ter ido a shows "do Zambujo, que é muito especial, e tenho CD's da Carminho. É uma oportunidade rara em que estamos comungando, as pessoas estão muito emocionadas". Na saída do teatro, Alceu Valença também mencionou "os portugueses" como um dos pontos altos da noite.
Entre os brasileiros, um dos prêmios mais comemorados foi a dobradinha de Cauby Peixoto, que venceu como melhor cantor e melhor álbum ("Minha serenata") na categoria canção popular. Aos 82 anos, o eterno intérprete de "Conceição" e "Bastidores", vestido de branco e prata, foi aclamado de pé por todo o teatro.
Outro momento emocionante apresentado por Adriana Calcanhotto e Zélia Duncan foi a premiação da categoria samba, quando subiram ao palco lendas vivas do estilo como Nelson Sargento (melhor álbum), Monarco (melhor cantor) e Alcione (melhor cantora).
Nas principais categorias, Caetano Veloso e Zélia Duncan venceram como melhores cantores na categoria Pop/rock/reggae/hip-hop/funk; Maria Bethânia e João Bosco receberam o mesmo título na categoria MPB; Ivete Sangalo levou o prêmio de melhor cantora na categoria canção popular e Moraes Moreira e Elba Ramalho foram melhores cantores na categoria regional.
O artista revelação da cerimônia, que durou duas horas e terminou com a apresentação de Ney Matogrosso, foi o cantor e compositor paulistano Rodrigo Campos. EFE
SHOPPING FECHA PORTAS E "ROLEZINHO" VIRA MANIFESTAÇÃO PACÍFICA NO RIO
19/0/2014 - 20h34
19/0/2014 - 20h34
Táia Rocha. Rio de Janeiro, 19 jan (EFE) - De forma pacífica e com humor, um grupo de 300 a 400 pessoas, de acordo com um policial militar no local, se reuniu em frente ao Shopping Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, e protestou contra o fechamento do prédio na tarde deste domingo, quando faria um "rolezinho". Marcado em uma página do Facebook como "Rolezinho no Shopping Leblon", que teve mais de 9 mil apoiadores confirmados, o evento planejava ser de "apoio à galera de São Paulo, contra toda forma de opressão e discriminação aos pobres e negros", de acordo com a descrição do grupo "Porque eu Quis", idealizador do ato. Fechado com tapumes, o Shopping Leblon exibia cartazes, em português e inglês, que diziam que o objetivo da medida visava a "garantir a segurança e o bem estar de clientes, lojistas e colaboradores".
Mais cedo, em nota à imprensa, a assessoria do shopping havia divulgado nota mais direta: "Tendo tomado conhecimento da mobilização de evento para milhares de pessoas marcado para este domingo, (...) o Shopping Leblon decidiu suspender suas atividades neste dia". O evento, que até as 19h20, quando a equipe da Agência Efe esteve presente, foi pacífico, teve cenas divertidas e inusitadas. Já de início, o já famoso "Batman" das manifestações cariocas - na realidade Eron Moraes, um protético de Marechal Hermes, na Zona Norte - chegou atraindo a atenção de curiosos e jornalistas, ao lado de um "Coringa". Cercado por câmeras e máquinas, o "Batman" rasgou um cartaz com os dizeres "Bem-vindos, somos todos iguais" e explicou: "Nossa luta não é contra os moradores do Leblon - bairro de elite do Rio - mas contra o Estado, que continua não dando as mesmas condições para as pessoas". E, batendo nos tapumes, repetia: "Essa barreira é símbolo do preconceito".
A poucas quadras da praia, na avenida Afrânio de Melo Franco, um dos endereços mais caros da cidade, a Guarda Municipal (15 guardas segundo um subinspetor no local) e a Polícia Militar (cerca de 200 agentes, de acordo com um PM presente) acompanhavam a manifestação à distância com efetivos reforçados. Entre os poucos manifestantes negros desde o início presentes no ato estava o professor de pré-vestibular comunitário Alexandre do Nascimento, de 45 anos. À Efe, Alexandre defendeu as ações no shopping: "Os 'rolezinhos' revelaram o quanto as elites brasileiras são racistas, revelaram um medo injustificável. É o medo racista que fez o shopping fechar", criticou. A cada hora, no entanto, a presença de negros e negras aumentava no ato. Uma delas, que se identificou como Tristan Aline, de 23 anos, estudante de Ciências Sociais na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), comparou o evento carioca ao original de sua cidade, São Paulo. "É diferente. Lá o movimento surgiu entre jovens da periferia que não tinham muitas opções de lazer. Começou na rua, mas a Polícia do (prefeito Fernando) Haddad reprimia e eles passaram a fazer no shopping. Aqui é de classe média, em apoio ao de lá, é mais político", analisou. Questionada se o fato de ser feito por uma classe diferente da que criou o movimento desvalorizaria o ato, Aline negou: "Não, é bem-vindo, claro. Aliás, justamente por não sofrer preconceito e estar na mira de um fuzil, a classe média tem a obrigação de vir apoiar".
Entre as performances que atraíam olhares e lentes, um grupo passou a tocar funk de protesto carioca e, em uma pequena churrasqueira, improvisou um churrasco. "É churrasco porque é 'perifa'... churrasco, funk... é a periferia dominando", brincou o "DJ" da festa, um jovem ruivo de olhos claros, que não quis se identificar e trabalha "na mídia". Ao lado, um grupo de jovens dançava alguns passinhos de funk, enquanto outros levavam linguiças assadas na hora para a fila que se formava na entrada do Teatro Casa Grande gritando: "Ei, burguês, a culpa é de vocês!".
Presente no local, o advogado Mário Miranda Neto, do grupo independente Habeas Corpus, que obteve o salvo-conduto permitindo a manifestação, esclareceu: "Não somos advogados do movimento ("Porque eu Quis"), estamos aqui para garantir o direito de ir e vir das pessoas". Em um breve momento de tensão, por volta das 19h, a multidão gritou várias vezes "Fora, P2!" (como são chamados os policiais à paisana infiltrados em manifestações), e três homens usando a mesma cor de camisa correram para o prédio de uma rede de televisão em frente ao shopping, que abriu as portas para o trio, que saiu logo em seguida. Ali ao lado, o Shopping Rio Design Center, que foi cogitado na página do Facebook como possível alternativa, também manteve as portas fechadas, com cartazes praticamente idênticos aos do Shopping Leblon. EFE
CELEBRIDADES REPERCUTEM PESQUISA DO IPEA NO FASHION RIO: EXISTE ROUPA VULGAR?
12 de abril de 2014
Táia Rocha
Rio de Janeiro, 12 abr (EFE) - Na edição de verão do Fashion Rio, famosa pela moda praia e pela sensualidade, que terminou nesta sexta-feira no Rio de Janeiro, a Agência Efe percorreu corredores e bastidores para descobrir o que fashionistas e convidados pensam sobre a questão: "existe roupa vulgar ou apenas comprimentos e cortes variados?".
Em março, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou que 65% dos brasileiros acreditavam que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Foi um erro grosseiro: na verdade, eram 26%.
Entrevistados pela Efe, fashionistas, estilistas e famosos concordaram, no entanto, que o número ainda assim é alarmante.
Em meio ao empurra-empurra dos fãs arrebatados pelo sucesso "Beijinho no ombro", que pediam desesperadamente por selfies ao seu lado, e causando tumulto bem maior do que em sua última aparição no evento, a funkeira carioca Valesca Popozuda falou à Efe sem rodeios:
"Não existe roupa vulgar. É o que eu sempre digo: a mulher que usa burca sofre violência (sexual); a criança, inocente, não induz a nada e sofre violência. Então a roupa não tem nada a ver com isso, não induz a nada".
Para alguns estilistas, como Roberta Ribeiro, da Maria Filó, uma roupa pode ser, em si, vulgar. À Efe, Roberta comentou o estudo: "Acho que esse resultado reflete a falta de cultura. As pessoas deveriam se preocupar em ter mais cultura em vez de julgar os outros".
Questionada se há peças vulgares, no entanto, confirmou: "Claro que há. Mas isso não justifica absolutamente a violência".
Na opinião da modelo e apresentadora Mariana Weickert, que considerou o resultado da pesquisa "favorável, apesar de alarmante, em comparação ao número absurdo que o Ipea havia divulgado", a vulgaridade existe, mas é uma escolha como qualquer outra.
"Cada um tem um estilo: mais elegante, mais sofisticado, mais sexy ou mais vulgar. Mas se for o que a pessoa quer, ser vulgar, isso é livre, que seja!" opinou.
Para a jornalista de moda Iesa Rodrigues, o resultado da pesquisa é "até compreensível" no contexto da cultura brasileira: "Este ainda é um país muito machista. Quando uma mulher aparece no local de trabalho ou num lugar que não é uma balada noturna, com uma roupa super decotada ou curta, ela fatalmente vai atrair esse tipo de olhar masculino".
A especialista acrescentou: "Agora, o cara pode até ter pensamentos (eróticos), mas não precisa pôr em prática, claro".
Sobre vulgaridade, Iesa opinou: "De roupa especificamente acho que não, existe vulgaridade de estilo, talvez da pessoa. Às vezes se tem uma atitude vulgar, mais do que a roupa. Mas é uma coisa muito ambígua".
Para o ator e apresentador Felipe Solari, ver roupas como um convite tem relação direta com a insegurança masculina: "Se eu vejo uma mulher com uma roupa um pouco mais ousada, não sinto vontade de estuprá-la, mas eu me garanto. Tem gente que não se garante e esses acabam vendo isso (roupas curtas) como provocação".
Solari comparou o Brasil com outros lugares: "O machismo impera no país em que a gente vive. Na Europa, a menina fica de topless na praia e não é estuprada por isso, nada acontece. É uma questão cultural. E é muito louco, porque a gente está no país do Carnaval, da pouca roupa".
"Existe muita mulher que se veste de maneira vulgar, mas o vulgar que eu digo é uma mistura que eu considero brega. Em relação à roupa sexy, eu não vejo isso como vulgaridade, vejo como um nicho da sociedade: tem meninas que gostam de usar pouca roupa", analisou o ator.
Passeando pelo evento, a bailarina Ana Botafogo lembrou a questão do clima: "No calor que a gente tem no Brasil, vamos ter que andar cobertas porque alguns não sabem se controlar? A mulher tem que usar o que quiser e as pessoas têm que saber respeitar", sentenciou.
O ator Klebber Toledo foi ainda mais radical: "Na verdade não importa se existe roupa vulgar. Tanto para homem como para mulher, a roupa não pode dizer o que uma pessoa pode ou não fazer e jamais pode ser álibi para uma agressão física, ofensa verbal ou algo parecido. Isso é abominável".